sábado, 29 de novembro de 2014

Lagoena II, roubos e mentiras

Oi, pessoal,

Ontem eu montei a estrutura  do Lagoena II em 5 folhas A4 e coloquei na parede do meu quarto para exercitar minha mente a pensar todo dia na história, sei que vai chegar um momento que vou querer rasgar o troço, mas por enquanto a relação está ok.

Mas não era bem isso que vim contar para vocês, no caderno que estava escondido o esqueleto do segundo livro encontrei o começo de um texto, ele foi abandonado, era apenas uma reflexão, então quando o vi, pensei: por que não?

Eis aqui:

"Gosto de pensar nas histórias de fantasia como grandes icebergs ou árvores muitos antigas, daquelas com raízes profundas. Imagino longos dedos fincados na terra, troncos robustos emergindo e galhos ameaçando a escuridão. Os icebergs se afogam nos grandes oceanos, se perdem na imensidão, escondem mistérios submersos. Pego um fio de prata e começo a delicada tarefa de tecer o mundo em toda suas nuances,  não posso perder sua verdade, tenho que mergulhar no desconhecido, decifrar seu código e contar nos dedos os dias que me restam ali.

O que eu sei, roubei de outras histórias,  fica algo de mim quando deixo meus rastros nos mundos onde pisei. Tenho a poesia de Tolkien num potinho sob a cama e o ar cálido de Nárnia dentro de uma caixa no armário. Não devolverei o que não é meu, a fantasia borbulha nas minhas veias, é meu ópio.

Talvez eu queira só mentir, fingir que tudo não passa de um faz-de-conta, que uma lágrima pode criar um mundo, uma canção pode destruí-lo. Seria tão fácil.

Na superfície tudo ficará de pé, as velhas histórias nunca serão apagadas pelo tempo, o universo inconsciente cria tramas complexas, está tudo lá, é só olhar através do espelho, mirar a própria alma e encontrar apenas o reflexo do que realmente é verdadeiro."


Acabei reescrevendo o texto, mas essência ainda é a mesma. Quis expressar a delicadeza de explorar mundos, fazer literatura fantástica. A medida que vou lendo sobre a psicologia dos contos de fadas e conhecendo seus símbolos percebi que escrever fantasia não pode ser feito de forma indiscriminada, não pode haver espaço entre a superfície e as profundezas, um vácuo não permitirá a ponte, o mistério nunca será descoberto pelo leitor, ele nunca o levará consigo como ensinamentos, nunca fará reflexões. Existe literatura fantástica rasa, superficial? É o que mais vemos por aí, nas prateleiras, o mercado está aberto para o gênero, o que é muito favorável, mas é bom ficar atento ao que se está fazendo, não adianta jogar sexo e violência num mundo medieval que isso não fará ninguém a ser o próximo George Martin, é preciso saber o que se dizer na entrelinhas, é interessante ter consciência do mundo fictício e não injetar uma série de criaturas, guerreiros e um povo complexo que estão em vias de uma guerra, doidos para sair na porrada. Não estou cuspindo regras, estou levantando uma questão, numa história de fantasia pode haver guerras, monstros, fadinhas e até a Carla Perez se alguém quiser, mas é legal existir coesão, embasamento,  para os fatos não soarem apenas alegóricos e artificiais, não adianta, o leitor vai perceber quando a mentira é esdrúxula.

Minta de verdade. Finja ser o cavaleiro que matou o dragão, conheça os motivos que o levaram esse ato, conte ao leitor um parte e o deixe fisgar o restante, ele adora um mistério, uma boa  verdadeira inventada.

Até a próxima.

Laísa Couto

2 comentários:

  1. É isso mesmo. Seu texto antigo ficou lindo, coisa de mestre de sagas. Orgulhe-se dele!

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